quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Tudo começou em Brusque, Santa Catarina, em 1945, na pequena oficina Tiradentes. Dois homens curiosos e idealistas, Guilherme Holderegger e Rudolfo Stutzer, fabricavam anzóis, fios elétricos e peças para bicicletas e consertavam de tudo um pouco. Até que um dia apareceu uma geladeira a querosene, importada, para consertar. Geladeira no Brasil naquela época, só importada, e encontrada somente na casa de gente muito rica. Não sobrou peça sobre peça. Os dois desmontaram toda a geladeira, estudaram cada pedacinho e partiram para o que na época era uma grande aventura: fabricar o primeiro refrigerador brasileiro.

Juntamente com Wittich Freitag e com ajuda financeira do cônsul Carlos Renaux, rico empresário do ramo da tecelagem e do qual Stutzer era motorista e amigo, o primeiro refrigerador foi chamado de CONSUL (escrito sem acento) em homenagem ao benfeitor. Quando a oficina virou fábrica, em 1950 num pequeno galpão de 680 m2 na cidade de Joinville, a homenagem permaneceu e deu origem à Indústria de Refrigeração Consul. O primeiro refrigerador, chamado de CONSUL JÚNIOR, que era a querosene e funcionava com resistência elétrica, logo se transformou num sucesso. O novo refrigerador tinha porta aproveitável que possuía espaçosos compartimentos para ovos, frutas e garrafas e podia fazer 12 cubos de gelo.

A primeira logomarca foi uma reprodução da assinatura do cônsul Carlos Renaux. Para fazer a marca, era usada uma chapa de metal cromado, que depois tinha que ser recortada com uma serra tico-tico, dificultando assim esculpir o acento circunflexo da palavra, que acabou sendo retirado. Inicialmente a meta era produzir um refrigerador por dia. Logo foi mudada para 5 por dia. A fábrica começou a crescer e teve que contratar mais funcionários. A conquista de novos mercados faz parte, desde o início, dos ideais e planos da empresa. Em 1951, a CONSUL já demonstrou ousadia em ultrapassar as fronteiras do Estado de Santa Catarina ao enviar o seu primeiro carregamento de refrigeradores ao Rio de Janeiro. A mercadoria, 32 refrigeradores cuidadosamente embalados, foi transportada em caminhão e a jornada para a Capital Federal daquela época não foi nada fácil pelas estradas brasileiras, em mau estado de conservação.

Em 1958 os refrigeradores da CONSUL passaram a ser elétricos. Já no final da década a CONSUL tinha muito para comemorar. Se, no ano de sua fundação a empresa dava os primeiros passos com a fabricação de 22 refrigeradores, em apenas seis anos a produção anual foi para mais de 3 mil unidades. O ano de 1959 trouxe a fabricação recorde de mais de 14.600 unidades. Isso, graças ao espírito empreendedor da marca e à aquisição de novas máquinas e equipamentos mais modernos, instalados nos novos prédios que ocuparam o lugar do velho galpão, em Joinville. Nesta época, o momento econômico, favorecido pelo governo do presidente Juscelino Kubitschek, permitiu a CONSUL ingressar na disputa pela conquista do mercado internacional com a venda do primeiro lote de refrigeradores, tanto a querosene como elétricos, ao vizinho Paraguai. Às vésperas de completar uma década de vida, os objetivos de crescimento foram ultrapassados graças à vontade e ao esforço de seus fundadores e colaboradores. Nesta época, a CONSUL ganhava ares de uma indústria de porte, totalmente nacional. A entrada na década de 60 deu-se com uma produção de 30 mil refrigeradores por ano. Desde 1967, ano em que participou de sua primeira feira internacional, em Lima, no Peru, a CONSUL marcou presença nos principais eventos do segmento no mundo. Era a forma de mostrar ao mundo que os produtos brasileiros não tinham nada a dever aos estrangeiros em tecnologia e qualidade. Nos anos dourados, a empresa aprimorou o sistema de isolamento térmico e lançou o modelo Consul Júnior, precursor do frigobar. Outras novidades foram os lançamentos da linha “Capacidade Total”, refrigeradores com paredes comprimidas e mais espaço interno, e do Supercongelador, seu primeiro freezer doméstico para atender uma exigência do mercado.
Em meados de 1972, o refrigerador de número 1.000.000 saía das linhas de montagem, indo direto para um lugar muito especial: a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Por ser um produto que simbolizava 22 anos de lutas e conquistas, a CONSUL decidiu dar a ele um destino nobre, em vez de comercializá-lo no Brasil ou embarcá-lo para algum outro país. Nesta década, atenta aos padrões estéticos da época, introduziu cores vibrantes – vermelho, azul, verde e amarelo – na sua linha de refrigeradores, além do refrigerador Maxi Super, onde cada detalhe era prático e elegante como porta-laticínios na parte superior do painel da porta, amplo congelador horizontal, porta-ovos removíveis e grades inteiriças e livres de parede a parede.

Aos poucos a CONSUL foi ampliando o seu catálogo de produtos, incluindo secadora de roupas, nos anos 80; fogões, fornos de microondas e lavadoras, na década de 90. Nesta época, a CONSUL chegou a exportar seus produtos para 100 países ao redor do mundo. Para serem exportados, muitas vezes os produtos tinham que sofrer adaptações para atender as normas de segurança de cada país e o gosto do consumidor local. Os asiáticos, por exemplo, não queriam produtos brancos, porque essa é a cor do luto deles. Os refrigeradores que iam para o Caribe tinham que ser de cores variadas como azul, verde, amarelo e vermelho, para combinar com a alegria e o clima da região. Em países da América Latina era costume assar carne direto na grade do forno. Por isso, os fogões que iam para lá precisam tinham uma bandeja que ficava por baixo da grade, para recolher o suco da carne. Já para outros países do Oriente Médio e Ásia, os fogões precisavam ter 5 bocas, quatro redondas e uma retangular, ideal para assar peixes. A CONSUL faz as adaptações necessárias para cada destino e seguia rigorosamente os padrões internacionais de qualidade e segurança.

Em 1994, a empresa se funde com a Brastemp S.A., formando assim a Multibrás S.A. Eletrodomésticos, tendo como objetivo fortalecer a posição de ambas as marcas no mercado nacional, e no ano de 2000, é adquirida pela americana Whirlpool. A partir deste momento a CONSUL tem suas estratégias internacionais revistas, com foco exclusivo no Merco Sul, principalmente em países como Argentina e Chile.


Fonte: mundodasmarcas.blogspot.com